MÚLTIPLOS OLHARES PARA A INCLUSÃO
Vivências, teoria e prática em diferentes espaços sociais
DOI:
https://doi.org/10.15603/ina.vol.1.2059Palavras-chave:
acessibilidade e inclusão, stricto senso e acessibilidade, ambiente religioso e acessibilidade, ensino superior e acessibilidadeResumo
A acessibilidade, como dimensão transversal dos direitos humanos, demanda ações que ultrapassem o cumprimento formal de normas, alcançando mudanças culturais e organizacionais que garantam participação, pertencimento e permanência de pessoas com deficiência e pessoas com transtornos (sejam eles mentais, de personalidade ou do neurodesenvolvimento). Apesar de, dentro dos textos legais, o amparo da acessibilidade se limitar a pessoa com deficiência, o que se percebe é que o processo de acessibilidade abrange grupos para além das deficiência. Este trabalho busca integrar evidências sobre: (i) acessibilidade organizacional e inclusão laboral; (ii) acessibilidade no ensino superior stricto sensu e (iii) acessibilidade religiosa. Estudos brasileiros indicam que, apesar da existência da legislação de cotas (vagas para pessoas com deficiência), persistem barreiras estruturais e atitudinais significativas. O preconceito, a falta de acessibilidade, o despreparo das empresas e a baixa qualificação educacional, oriunda de trajetórias escolares excludentes, são frequentemente mencionados (Pereira-Silva; Furtado, 2013; Neves-Silva et al., 2015; Santos; Nogueira, 2022). Salienta-se que esses fatores reduzem tanto as oportunidades de contratação quanto as possibilidades de progressão profissional, com implicações até em penalidades salariais. A pessoa com deficiência é colocada no ambiente laboral apenas para o cumprimento de um texto legal e não é vista como o profissional que é, sendo, na maioria das vezes, vítima do capacitismo. Como alternativas, estudos sugerem a adoção de adaptações no ambiente e nas tarefas, investimento em acessibilidade física e digital, programas de formação e sensibilização para gestores, bem como mecanismos de monitoramento e avaliação do clima organizacional. Apresenta-se aqui, casos que demonstram as dificuldades apontadas nos estudos e estratégias utilizadas no processo para a verdadeira inclusão destes indivíduos dentro do ambiente de trabalho. No que se refere à acessibilidade no ensino superior, há avanço no acesso, mas a permanência e a integração acadêmico-social seguem desafiadoras quando as instituições se limitam a “acomodações” e não transformam clima institucional e práticas pedagógicas. Para além das questões de barreiras físicas, o que se pretende mostrar na pesquisa, são as barreiras atitudinais frente a presença de alunos dentro do ambiente universitário, que conseguiram galgar uma vaga no stricto sensu. As barreiras se apresentam na tentativa de normatização destes sujeitos, deixando de lado suas singularidades. A visão capacitista também impera neste ambiente. A literatura internacional destaca a necessidade de ir “além da conformidade legal”, criando ambientes verdadeiramente inclusivos e acessíveis, principalmente para estudantes com deficiências “invisíveis” (p. ex., TEA, TDAH), frequentes na pós-graduação. As pesquisas, na atualidade, indicam que programas de formação docente baseados no Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) (Prais, 2020/2017; Borges; Schmidt, 2021) contribuem para a prática docente em contextos de ensino superior stricto sensu, sobretudo ao trabalharem com pessoas autistas. Tais atitudes promovem ganho em conhecimento pedagógico e conforto institucional, além de favorecer o planejamento de estratégias diferenciadas, como múltiplas formas de engajamento, sinalização clara de expectativas e gestão sensorial (Prais, 2020; Borges; Schmidt, 2021). No ambiente religioso, o processo de inclusão e a garantia da acessibilidade, se mostram, ainda incipientes. O ambiente religioso, em muitas realidades, apresenta barreiras atitudinais no processo de inclusão e na garantia da acessibilidade. Principalmente no que tange a acessibilidade das deficiências invisíveis. Estudos históricos sobre a surdez, por exemplo, apontam vínculos antigos entre a igreja e a escolarização de pessoas surdas, “por séculos, os surdos usufruíram especialmente da interpretação em igrejas, muito tempo antes da criação de entidades representativas desta comunidade” (Albres; Jung, 2023; Carneiro, 2017). Contudo, estudos contemporâneos como o de Silva (2024) alertam que a inclusão não efetiva somente com comunicação acessível, que inclui a presença intérpretes de Libras, legendagem de liturgias e materiais visuais, além disso, é preciso garantir participação ativa dos surdos nos ritos, no ensino religioso e nas atividades ministeriais. Pesquisas recentes (Freitas; Freitas, 2024) evidenciam que a inclusão de pessoas autistas no ambiente religioso ainda enfrenta entraves relacionados à normatização de comportamentos e à expectativa de participação segundo padrões neurotípicos. Muitas igrejas mantêm práticas centradas na ideia de “cura” ou de adequação da pessoa autista, o que pode gerar exclusão e sofrimento (Freitas; Freitas, 2024). Por outro lado, abordagens fundamentadas no paradigma da neurodiversidade propõem que a espiritualidade autista seja reconhecida como legítima, valorizando formas próprias de presença, comunicação e ritualidade, como o silêncio, a literalidade e a repetição ritualística (Walker, 2021; McRuer, 2006). A metodologia dos textos produzidos é variável entre relatos de experiência, estudos de caso e pesquisa narrativa (Clandinin; Connelly, 2015). Os resultados encontrados demonstram que, há práticas de acessibilidade capazes de vencer o pensamento capacitista e as barreiras atitudinais. Os relatos de experiência, estudos de caso e narrativas apresentadas trazem experiências positivas do processo de acessibilidade.
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