Definidos os dossiês com chamada aberta para 2026
Dossiês para 2026
N.1/26 - O livro de Jó: olhares possíveis, sofrimentos reais
O livro de Jó se constitui não apenas como uma peça literária que compõe o corpus da Bíblia Hebraica. Sua importância se estendeu para além dessa fronteira e passou a ser de interesse de outras epistemologias do que aquelas relativas e específicas à Teologia e à Ciências da Religião. Assim, propõe-se neste dossiê artigos com análises do livro de Jó que conduza o (a) pesquisador (a) a ir além das muitas possibilidades já dadas e afirmadas em excepcional quantidade de livros e artigos publicados. Um olhar por trás das palavras permitirá conduzir o leitor (a) à percepção de múltiplas epistemes presentes no texto e como elas constroem e sustentam mundos próprios com fronteiras bem definidas, atento aos sujeitos e/ou grupos e seus interesses, que se encontram produzindo os mais diferentes e contraditórios discursos; um olhar à frente das palavras permitirá construir e propor leituras e aproximações que desnudem as violências e sofrimentos nas distintas possibilidades de recepção do livro. Para tanto, o dossiê acolhe tanto análises decoloniais, de gênero, exegéticas, hermenêuticas, sócio-teológicas e literárias do livro de Jó quanto sua leitura e recepção interdisciplinar na Literatura, Psicanálise, Artes e demais saberes.
Proponentes
Prof. Dr. Luiz Alexandre Solano Rossi (PUC-PR)
Prof. Dr. Lucas Merlo Nascimento (FTSA)
Profa. Dra. Sue’Hellen Monteiro de Matos (EIG)
Os artigos podem ser enviados até 10 de março de 2026
Dossiê n. 2/26 - Filosofia da religião e seu desenvolvimento no Brasil
A filosofia da religião, enquanto disciplina consolidada no âmbito filosófico, se constitui como um campo de investigação que busca compreender o fenômeno religioso em sua complexidade, sem reduzi-lo a categorias puramente racionais ou confiná-lo a um discurso teológico dogmático. No Brasil, esse campo de estudo tem se desenvolvido a partir de diferentes abordagens teóricas e metodológicas, dialogando com a história da filosofia, a hermenêutica, a fenomenologia, a análise crítica e outros enfoques que permitem compreender o lugar da religião na cultura e na sociedade contemporânea.
O presente dossiê temático tem como objetivo reunir trabalhos que investiguem temas de filosofia da religião e seu desenvolvimento no Brasil, explorando suas interfaces com outros campos do saber, suas contribuições para a compreensão do fenômeno religioso e seus desafios teóricos e metodológicos. Almeja-se, assim, fomentar um debate qualificado sobre as seguintes questões e eixos temáticos:
a) Origens e desenvolvimento da filosofia da religião no Brasil: história, influências filosóficas e principais correntes.
b) Filosofia da religião e modernidade: a relação entre razão, fé e transcendência no pensamento moderno.
c) A questão da divindade na filosofia da religião: concepções de deus(es/as), do sagrado e do divino a partir de diferentes perspectivas filosóficas.
d) Fenomenologia e hermenêutica da experiência religiosa: interpretações do fenômeno religioso à luz da fenomenologia e/ou da hermenêutica filosófica.
e) A relação entre filosofia da religião e ciências da religião: convergências, divergências e colaborações interdisciplinares.
f) Crítica da religião na tradição filosófica: diferentes abordagens filosóficas que questionam ou problematizam a religião, seus conceitos e/ou seu papel na cultura e na sociedade.
g) A filosofia da religião diante dos desafios contemporâneos: pluralismo religioso, secularização e fundamentalismos.
h) Filosofia da religião no Brasil e suas conexões internacionais: diálogos com tradições filosóficas estrangeiras e suas influências no contexto nacional.
Convidamos pesquisadores/as da filosofia, das ciências da religião, da teologia e de áreas afins a submeterem contribuições que abordem essas questões de maneira crítica e propositiva. O dossiê visa proporcionar um espaço de reflexão sobre os rumos da filosofia da religião no Brasil e suas implicações para o pensamento filosófico em geral.
`Proponentes
Andreia Cristina Serrato (PUC-Paraná)
Clelia Peretti (PUC-RS)
Jonas Roos (UFJF)
José Reinaldo Felipe Martins Filho (PUC-Goiás)
Luís Gabriel Provinciatto (PUC-Campinas)
Renato Kirchner (PUC-Campinas)
Os artigos podem ser enviados até 10 de julho de 2026
N. 3/26 - Religião, laço social e Psicanálise
A psicanálise e o campo de estudos religiosos têm uma relação complexa e cheia de ambivalências científicas e políticas. Com efeito, se por um lado uma tradição psicanalítica considerava, desde Freud, a religião como uma “neurose obsessiva coletiva” e a instituição religiosa como um movimento de massa e que, portanto, rebaixaria a capacidade intelectual do sujeito, é inegável para autores como Freud, Jung, Reich, Fromm, Lacan, Winnicott, Haddad, Zizek e outros que a experiência religiosa pode oferecer algo para além do senso comum psicanalítico, um complexo degradê simbólico e afetivo envolvendo o sentimento oceânico de integração, a possibilidade de construção de vínculos sociais, de amparo junto a um Outro acolhedor, políticas de reconhecimento, ou mesmo no desenvolvimento de perspectivas teleológicas novas para o sujeito e, sobretudo, modalidades de mobilização de grupos e populações que dificilmente são atingíveis por artifícios ideológicos ou políticos quaisquer. Do mesmo modo, para o campo das ciências sociais e das ciências da religião, a psicanálise há tempo possibilita, além de um importante referencial teórico crítico, heterogêneas chaves hermenêuticas para o estudo do fenômeno humano em seus múltiplos espaços e saberes. Interessa-nos analisar como a religião aparece na prática psicanalítica, considerando as ferramentas teóricas dos analistas e como seu lugar social (classe, raça, gênero) influencia essa escuta. Do mesmo modo, é necessário discutir o papel da espiritualidade como apoio simbólico para vítimas de violência extrema. Atualmente, um campo de investigação cruzado entre estudos religiosos e psicanálise se faz cada vez mais necessário diante da imanência que a experiência e a discursividade religiosa passaram a ter no campo político e da subjetividade geral. Desta feita, este dossiê convoca para trabalhos inéditos, pesquisas e aproximações que tentam ampliar tanto as possibilidades da psicanálise de pensar os fenômenos religiosos e práticas religiosas em seus efeitos psíquicos, culturais, sociais, políticos e econômicos, mas também para que o campo dos estudos das ciências sociais e religiões possa interrogar a psicanálise em suas valências, falhas, recalque e recusa no tocante às experiências, às instituições e mesmo às tradições religiosas, além das possibilidades e perspectivas abertas de diálogo entre os diferentes estudos da religião e a psicanálise.
O dossiê está aberto para abordar temáticas como, mas não exclusivamente:
- Tradição judaico-cristã e sentimento de culpa: análise do sentimento de culpa na tradição judaico-cristã fundamentado na noção de pecado, e sua implicação no desenvolvimento da psicanálise, a partir de Freud.
- Neoliberalismo, religião e subjetividade humana: o funcionamento religioso do capitalismo na relação do mercado como o Grande Outro e o novo sujeito neoliberal frente ao mercado.
- Religiosidade, espiritualidade e psicanálise: como as imagens do absoluto/divino, por meio de experiências de cuidado e desamparo, ofertam ao ser humano o estabelecimento de uma espiritualidade e/ou um reposicionamento ético.
- Religião e sua intersecção com outros marcadores sociais da diferença: análises que discorram sobre a construção dos sujeitos sociais a partir da relação das práticas religiosas com outros marcadores sociais, tais como, raça, gênero, sexualidade, geração e território.
- Religião e grupalidade: analisar os impactos dos discursos e das práticas religiosas nas configurações familiares, conjugais e em grupos sociais.
- Religião e política: analisar sobre como as religiões se inserem em dinâmicas políticas, tanto num plano social quanto num plano institucional e em seu papel como possibilidade de norteamento e resposta para demandas sociais.
- Psicanálise, religião e contextos de violência extrema: reflexões sobre como a espiritualidade opera como recurso de sentido e resistência frente a situações-limite, como a guerra, a tortura, o genocídio, os campos de concentração e a violência urbana.
- Psicanálise, ciência e pós-verdade: como essa nova gramática tensiona a relação entre psicanálise e religião a partir dos atravessamentos pelas questões que envolvem o que seria a verdade.
- Escuta clínica, racismo religioso e desigualdade simbólica: análises sobre como diferentes expressões religiosas são ou não reconhecidas nos consultórios, com atenção a apagamentos, exotizações e julgamentos morais.
- A institucionalização da religião no Estado brasileiro e seus efeitos subjetivos: investigações sobre como essa nova configuração político-religiosa transforma as formas de escuta, sofrimento e crença.
Proponentes
Edin Sued Abumanssur (PUC-SP)
Gabriel Inticher Binkowski (USP)
Jacqueline Moraes Teixeira (USP)
Marina Garcia Sawaya (USP, Université Paris Cité)
Thales Martins dos Santos (UMESP)
Os artigos podem ser enviados até 30 de outubro de 2026

