Discurso de Violência no Apocalipse de João e o corpo feminino: linguagem e poder
DOI:
https://doi.org/10.15603/2176-1078/er.v38n1p87-111Palavras-chave:
Linguagem; Discurso; Apocalipse; Mulher; Violência.Resumo
A linguagem apocalíptica é perpassada por símbolos de violência e esperança. No limite das metáforas, as imagens discursivas nessa literatura são instrumentos de construção de identidade e organização de mundo. Seguindo essa tradição do segundo templo, o visionário João convida seus interlocutores das sete igrejas da Ásia interpretarem o Império Romano como habitação do caos, o que exigiria das comunidades de fé da região asiática do primeiro século rigoroso ascetismo. Como contradiscurso, o Apocalipse contraria a propaganda imperial de ordem e pax descrevendo a realidade como habitação do dragão (Ap 12-13;17), o que exigiria total separação cultural. Sua estratégia discursiva, como defendem as atuais pesquisas, à luz das análises discursivas, estabelece fronteiras rigorosas nas quais se fortalecem os limites simbólicos dos seguidores do cordeiro ou da besta. Nesse cenário de construção de identidade, a corporeidade feminina é tratada no Apocalipse como parte do sistema maligno. Seguindo as orientações metodológicas que compreendem o texto como resultado estratégias de enunciação, a partir das teorias do discurso, o capítulo mostrará como as imagens vinculadas imageticamente ao feminino servem material simbólico no discurso ascético de João. A hipótese deste ensaio é que a linguagem do Apocalipse, a despeito de apresentar uma dura crítica ao Império, ao mesmo tempo fortalece a violência de gênero e tem potência de legitimação da misoginia, o que nos obriga ler o texto com cuidado crítico e inversão simbólica.
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