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O uso “viciante” das tecnologias digitais de comunicação e informação é examinado, neste artigo, à luz da noção de “mal-estar” apresentada por Sigmund Freud em 1930. Recorrendo à perspectiva genealógica, considera-se que as transformações históricas ocorridas nas últimas décadas afetaram fortemente a configuração das subjetividades e os modos de sofrer, distanciando-se da civilização moderna que motivou as reflexões freudianas. Os sujeitos contemporâneos já não se reconhecem como aqueles cidadãos disciplinados da sociedade industrial, que em nome do “bem comum” aceitavam a submissão a uma autoridade internalizada, moral e legalmente consensuada, à qual era preciso obedecer reprimindo outros impulsos. Por isso, a inquietação que suscita a crescente dependência da conexão às redes informáticas, um ato individual e voluntário embora difícil de se (auto)controlar, constitui um caso exemplar para estudar essas importantes mudanças.