
Em uma perspectiva ensaística, o artigo apresenta questões sobre as contradições do recrudescimento da retórica de autolegitimação da prática jornalística com a crise do estatuto histórico da concepção de verdade no contexto de disseminação das chamadas “fake news”. Considera-se no artigo a hipótese de que a resposta do campo jornalístico ao fenômeno tem buscado amparo em elementos deontológicos ancorados em uma releitura do “realismo ingênuo” (GOMES, 2009), o que fragiliza o argumento de autolegitimação e aproxima a retórica do campo de uma espécie de paralaxe que projeta luz em elementos estruturais semelhantes ao do fenômeno que combate (as próprias “fake news”), eclipsando a compreensão da complexidade do fenômeno cultural mais amplo: a disseminação social de modelos narrativos respaldados por padrões culturais aderentes pavimentados na vida cotidiana.