Resumen
O artigo apresenta um recorte de uma pesquisa interinstitucional, que teve como objetivo conhecer as histórias de vida de crianças, seus/suas professores/as e suas famílias, identificando e compreendendo as marcas presentes do cuidar e ser cuidado em narrativas de crianças e adultos que frequentam creches, pré-escolas e escolas. Neste estudo, a compreensão do cuidado tem sido construída no diálogo com Mikhail Bakhtin e Martin Buber, autores que sustentam as relações dialógicas como premissa para uma existência que seja uma resposta responsável ao tempo e ao lugar no qual vivemos. Na metodologia, seguiu-se a abordagem qualitativa, utilizando como estratégias entrevistas individuais e coletivas, oficinas e observação participante. O artigo focaliza narrativas de duas merendeiras de uma escola da rede municipal do Rio de Janeiro, que atende a Educação Infantil e os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. As narrativas indicam que as merendeiras entrevistadas compreendem o preparo e a oferta da alimentação como práticas de cuidado, que envolvem não apenas cozinhar e servir o alimento, mas também interesse, atenção e reconhecimento das necessidades do outro, especialmente das crianças. A pesquisa, entretanto, aponta que a falta de profissionalização do cargo de merendeira pode contribuir para que uma lógica de espaço doméstico prevaleça nas relações e no próprio ato de cozinhar em uma instituição educacional, favorecendo condições de trabalho precárias e desvalorização de uma profissão fundamental na implementação do Plano Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Na contramão do desprestígio, as crianças da escola pesquisada reconhecem e valorizam os gestos de cuidado das merendeiras entrevistadas.

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