A (IN)CONFORMIDADE DOS CORPOS NA HANSENÍASE

Abstract

A hanseníase constitui grave problema de Saúde Pública no Brasil. É uma doença crônica, cuja característica principal da doença é o aparecimento de incapacidades físicas irreversíveis que podem evoluir para deformidades. Como forma de preveni-las, o Ministério da Saúde propõe ações educativas em autocuidado, as quais observou-se, como psicóloga, dificuldade de aderência dos pacientes. Para tanto, este estudo se objetivou em identificar como as pessoas que tiveram hanseníase percebiam seu corpo. Realizou-se pesquisa qualitativa com quinze pessoas em acompanhamento no Programa de Autocuidado em Hanseníase, por meio de entrevista semi-estruturada. Utilizou-se análise de conteúdo, a partir da qual se identificou percepções negativas em torno do próprio corpo, objetivadas nas palavras sequelas, manchas, atrofias, mal-perfurante, pelotes e feridas. Outra questão emergente foi a incompreensão da cura,  pela ameaça constante das reações hansênicas, bem como pelas incapacidades/deformidades irreversíveis.  Compreendeu-se que a hanseníase gerou cicatrizes profundas nos entrevistados, pois o estigma permaneceu não somente no corpo, mas também na mente e no imaginário destas pessoas. Suas vidas sofreram grandes transformações devido às perdas que foram se efetivando. Concluiu-se que a dificuldade de aderência ao autocuidado pode estar relacionada à percepção corporal ‘marcada’ pela exclusão dos ‘corpos (in)conformados’, ocasionando sentimentos de inadequação, vergonha e medo. Acredita-se que as ações educativas em autocuidado, para terem legitimidade, devem ampliar o cuidado tecnicista, incluindo a reflexão dos processos socioculturais normatizadores e das percepções corporais das pessoas acometidas pela hanseníase, favorecendo, dessa forma, novos paradigmas sobre o processo corpo/saúde/doença, empoderando-os a um autocuidado mais efetivo e consciente.